quarta-feira, 24 de março de 2010

A interpretação dos fósseis

Como outras disciplinas científicas, no século XVIII, os conhecimentos geológicos caracterizam-se por um singular entrecruzar de observações precisas e de explicações assentes em crendices. A herança cientifica medieval e da Antiguidade clássica perdiam a credibilidade, rapidamente, mas, “legitimadas” pela autoridade da Bíblia, exerciam ainda uma grande influencia sobretudos em questões amplas como as da cosmologia, a que as ciências da Terra estão directamente ligada.
Um dos problemas mais debatidos era o da origem dos fosseis de animais e plantas “impressos” na rocha, que desde há séculos vinham sendo encontrados. Embora já Leonardo da Vinci e Benard Palissy tivessem claramente afirmado que os fosseis eram restos e organismos mortos em tempos antigos, a maioria acreditava que se tratava de formações naturais das rochas, provocadas por causas variadas e inverosímeis. Por exemplo, o coleccionador inglês Lhwyd defendia que eles se desenvolviam a partir e sementes espalhadas nas rochas, enquanto o medico italiano Lancisi afirmava que se formavam por influência das estrelas.
Um exemplo curioso da fantasia de certos estudiosos do século XVIII é o do professor alemão Johann Beringer. Convencido que os fosseis teriam sido formados por Deus, recolhei vários exemplares cobertos de caracteres hebraicos e de outros símbolos, classificando-os e descrevendo-os num volume publicado em 1726. Quando descobriu um “fóssil” como o seu próprio nome, compreende u que todos tinham sido preparados pelos seus alunos para o enganar. O entusiasmo pela teoria levara o prestigiado estudioso ao engano. A questão em jogo na interpretação dos fosseis fossem de origem orgânica implicava a necessária suposição de que eles pertencessem a espécies já extintas. Esta hipótese contradizia a concepção de natureza como fruto de um plano de criação divina, perfeito e imutável.

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